bilhete escrito para o velho amor

Nao pense , nao se esqueça, de tudo do nada, da paisagem, da estrada, do hotel, das noites e dos vinhos, dos dias de verão na tua cidade, com sabor de sorvete e cheiro de pão todo dia de manhã, das conversar infinitas, das discussões que sempre surgiam, das contradiçoes que viviamos, de todas as vezes que concordamos que o melhor era nos afastarmos.
Da garrafada, do sangue, da marca na cara, do tiner, da chuva,
da paixão, de como você tremeu na primeira vez que me beijou,
da manhã no parque (que eu sei que permanece na sua lembrança como um quadro impressionista de uma manhã que nunca mais existirá igual)
Do sexo, do cheiro da minha vagina, das brigas por cocaína, das noite que me traia, dos defeitos que eu tinha, e de como você se derretia me ouvindo cantar canções infantis.

amar você deixou marcas.. e eu sonhava contigo antes mesmo de te conhecer..
um cigarro na janela, boa noite, amanhã isso tudo é puro devaneio solitário do passado que me falta.
a gente nunca teve sentido mesmo...

ferme la bouche et ne parle pas

“Perdi-me muitas vezes pelo mar
Ignorante da água
Vou buscando uma morte de luz que me consuma”
Frederico García Lorca
C’est arrivé beaucoup de fois. Primeiro, ele se mostra calmo, seguro e acolhedor. Depois, começa a se afastar. Se afasta e volta, se afasta e volta, se afasta e volta, cada vez com mais força. Até que de repente, ele desaparece. E então tudo se torna areia e sem hesitação, sem pudor ou piedade alguma, ele devasta tudo. E então eu acordo. Eis o sonho que já tive inúmeras vezes com o mar. Não é sempre o mesmo mar, não é sempre o mesmo enredo. Da última vez, eu já sabia o que ia acontecer, mas mesmo assim quis ficar pra ver mais uma vez o fim que eu já conheço de cor. Nesses sonhos sempre tenho a sensação da morte. Não que eu já tenha morrido pra conhecê-la de fato, mas sinto o desespero e a sufocante sensação de limitação que imagino que sentirei no dissabor do derradeiro suspiro.

O mais contraditório é que ao contrário dos meus devaneios, dentro da minha realidade palpável não há outro lugar que eu mais queira estar senão junto ao mar. O mistério, a calmaria, a sensação de pequenez que sinto diante dele me fazem querer sempre estar lá pra vê-lo acontecendo. A gente nasce, a gente cresce, o tempo passa, a vida acontece e lá continua ele e suas ondas numa eterna coreografia com as pedras. É tão fácil perder-se pelo mar. É tão fácil entregar-se ao sutil deleite da magnitude e da leveza de ser mar. É tão fácil se apaixonar, se deixar seduzir por ele. Mas o mar, ah o mar.. tudo é mais fácil quando se está diante do mar. As coisas mais bonitas dessa vida se diferenciam por duas vogais e um espaço “o mar” e “amar”. Mas eu nunca me esqueço do sonho. On ne sait jamais. A gente nunca sabe. As duas coisas mais bonitas são para mim as mais traiçoeiras. Eu sei, eu já fiquei lá inúmeras vezes para ver. O mar e amar dentro de mim são duas coisas depredadoras. São duas coisas que podem te reduzir a nada, te destruir completamente, exterminar qualquer possibilidade de voltar a sonhar.

29 de agosto de 2013

Ainda existiam músicas que não podiam ser ouvidas, cheiros que jamais deveriam ser sentidos novamente, lugares que acreditava ainda não suportar passar. Mas cada dia era um passo para mais longe, era um passo num caminho diferente, no seu próprio caminho. E isso não causava mais dor e medo como antes, e nem era mais tão desesperador e obscuro como lhe parecia no começo. Quando todas as coisas estavam desfeitas e despedaçadas, não havia outra alternativa a não ser percorrer aquele caminho que era dolorosamente imposto. No fundo, agora, se sentia só, mas aliviada. Feliz por ser sua mais alegre companhia. A cada dia, a bagagem se torna mais leve e a caminhada mais confortável.


"Estou aprendendo a viver sem você" [Legiao Urbana - Vinte e Nove]


Amor na primeira semana de outono

Sair de casa no exato momento. Não esquecer nada e não precisar voltar (ocorrêcia quase rotineira). Pisar na rua e caminhar na velocidade exata seguindo pelo caminho de sempre com o pensamento fixo em uma ideia. Até que, de repente, um quarteirão depois, em frente ao tubo, você encontra alguém que tem exatamente aquilo que o seu pensamento estava fixando. A sua vontade e o seu querer fez o universo criar todas as circunstancias e trazer aquilo que você quis. E esse instante é um presente para você.

Apaixonei-me por um estranho. Palavras trocadas em menos de três minutos. A intensidade das coisas me fez sentir que ali, dentro daquele olhar desconhecido, e por isso misterioso e mal revelado, existiu algo que despertou uma curiosidade, uma vontade, um encontro, uma patologia, o pattus, a doença, a paixão...
PAIXONITE !

chá de gengibre, alho e limão.
adeus!
boa noite e amanha já passou.